A questão árabe na Europa não tem solução nada clara (haverá quem me
diga que politicamente correcto seria dizer «terrorista» e não «árabe»; mas já veremos porque não faço a dissociação).
Levanta uma questão. Há vários grupos étnicos extra-europeus
na Europa; uns estão integrados, outros não. Mas, salvo erro, o único
que forma revoltas armadas é o árabe. Porquê?
Creio que a
explicação é, pelo menos em parte, a seguinte. Desde há pelo menos 30
anos que há árabes na Europa a afirmar que é preciso atacar os europeus
(precisamente na Bélgica, a convite de um amigo árabe, tinha eu 25 anos,
encontrei-me, num café, com um grupo de extremistas árabes. A questão
não era religiosa, era simplesmente cultural: «tu deves morrer porque és
europeu», foi-me dito com ódio no olhar).
Presumo que esse ódio
exista também em comunidades africanas, talvez outras. Mas porque é que
são os árabes a fazer os atentados?
Porque a religião lhes
serve de fundamentação, porque a guerra santa vem no Corão. Bem sei que o Corão não diz só isso, que se pode
pretender que é uma religião de paz (isto daria muito que comentar – é
uma religião de paz depois da conquista total do mundo). Mas também diz
isso. Importa perceber que não estou a criticar a religião islâmica. O
que estou a dizer é que a religião —qualquer religião— tem um poder de
união que nada mais tem.
E isso porque a religião, por
definição, não se discute, está acima do indivíduo. E estando acima de
cada indivíduo pode unir todos os indivíduos.
Parece absurdo a um espírito racionalista. Mas não deixa de parecer ser verdade.
quarta-feira, 23 de março de 2016
Do ódio ao próximo ao amor do outro
- Há pessoas que não gostam das condições em que vivem. Chamemos-lhes «descontentes». Encontram um bode expiatório nos outros, que acham serem os causadores da angústia que os descontentes sentem; e passam assim a odiar o próximo e, logo a seguir, a odiar as pessoas em geral.
- Para justificar um sentimento tão mal-visto, os descontentes generalizam esse ódio ao próximo e às pessoas na fórmula, aceitável, «condenar a sociedade» («a culpa é dos burgueses, dos judeus, dos comunistas, dos americanos», etc.)
- Ao mesmo tempo que desenvolvem ódio ao próximo, e ainda para se justificar, os descontentes inventam um «homem ideal», não «corrompido pela sociedade», homem esse que podem amar. Rousseau tornou essa ideia popular com o «bom selvagem».
- No nosso tempo, esse «bom selvagem» é qualquer pessoa, qualquer cultura que não seja ocidental. É aquilo a que podemos chamar «o outro». Atenção, que «o outro» (idealização) é diferente de «o próximo» (pessoas que se conhecem de facto).
- Esperar-se-ia que, quando «o outro» se revela ameaçador, as ilusões desaparecessem. Mas se o ódio ao próximo for suficientemente violento não será assim. Nesse caso, o descontente, ao ver um «outro» atacar o «próximo», identificar-se-á com o outro: afinal, tal como o descontente, o outro ataca o próximo e odeia-o.
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