Em torno do conceito de alienação
A industrialização trouxe alterações muito
grandes à vida das pessoas. Houve migrações do campo para as
cidades e o trabalho deixou de ser artesanal para se organizar em
cadeias de produção. As próprias cidades se organizaram como
grandes fábricas com separação de trabalhadores e classes
possidentes. O trabalho fabril era duro e monótono e a vida dos
trabalhadores parecia pavorosa às classes médias: cada operário
desempenhava uma operação na cadeia de produção sem ter de
compreender a relação do seu trabalho com o produto final. O
próprio operário era como uma peça, cega, estúpida, de um
maquinismo. Fora do trabalho os operários procuravam consolo no
álcool e na prostituição. A impressão que se tinha era de uma
turba cinzenta, despersonalizada, que vivia sem alma, sem
significado, sem objectivos. É a isto que Marx chamou a alienação:
afastamento da vida e do seu significado.
Por contraste pensava se que o trabalho
artesanal ou até rural era mais afortunado. O camponês ou artesão
viveriam vidas menos alienadas porque seriam autores do seu trabalho:
o camponês semeava, mondava, arava, plantava e colhia, num ciclo que
compreendia e até certo ponto controlava; o artesão fazia peças
que concebia ele próprio, de princípio a fim. Parecia aos
intelectuais que essas vidas, menos padronizadas, menos
especializadas, pediam uma maior participação do trabalhador porque
o trabalho era planeado e executado por eles. Não estavam alienados
do significado das coisas que faziam, eram autores e não meras peças
de máquina.
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Esta defesa da importância da autoria das
próprias vidas, da valorização da acção voluntária e do
conhecimento e controlo das consequências das nossas acções no
ambiente tem origem em duas ideias.
A primeira, mais óbvia, é o romantismo, que
diabolizou o trabalho industrial e idilizou a vida nos campos: as
fábricas são feias, monótonas, o campo é belo e sempre em mutação
com as estações.
A segunda tem raízes muito mais antigas:
trata se da afirmação, de Espinosa, de que a liberdade do
homem é interior e depende da sua capacidade de conhecer o porquê
do que faz. Esta afirmação está ligada à compreensão de que a
vida é uma representação do mundo exterior, isto é, que o mundo
exterior apenas faz sentido quando conotado por nós: o mundo em si
não tem significado; o significado é dado pela mente, quando
interpreta esse mundo.
O operário, que faz uma operação
repetida sem fim não tem qualquer controlo sobre o produto final,
nem precisa de o compreender; em contrapartida, o artesão ou o
camponês têm de tomar várias decisões sobre como executar cada
uma das várias operações necessárias ao resultado final.
Trata se, pois, de trabalho autónomo, decidido pelo
próprio trabalhador, que compreende o porquê do que faz e sabe
decidir como o fazer em cada momento.
Em consequência disto, o artesão ou camponês
possuiriam a vida em muito maior grau do que os operários fabris.
Como pessoas, seriam mais ricas,
mais auto determinadas, mais livres, menos alienadas porque
possuiriam mentalmente o seu mundo em muito mais alto grau do que os
operários.
Há uma distinção
importante entre ser e
ter, que deriva
directamente da definição da liberdade como conhecimento dos
determinantes das nossas acções. Ser é conhecer se e ao
mundo, saber porque fazemos o que fazemos. Ter é simplesmente o
aumento de poder sobre os outros e sobre as coisas. Espinosa opunha o
conhecimento de si e do mundo à procura desenfreada de prazer
material (posses, poder, sexo) e dizia que esta procura de prazer nos
reduz à escravidão: sem compreender o porquê dos nossos desejos,
limitamo nos a correr de um para outro como criaturas
irracionais.
Marx e a sua
teoria da alienação inserem se nesta linha de pensamento.
O trabalhador fabril apenas poderia aspirar a ter para poder obter
breves momentos de prazer e de esquecimento. Era um escravo
totalmente alienado, definia se já não pelo conhecimento
que tinha das razões do seu trabalho mas apenas pela procura de ter
o suficiente para sobreviver e alienar se mais no álcool e
no sexo pago. Seria necessário reorganizar a economia de maneira a
devolver às pessoas a autonomia, a autoria, a reflexão sobre si
próprias e sobre as relações com o mundo em sua volta.
Marx pensava que
o homem está, sempre, em luta com o ambiente. Para vencer essa luta,
organiza se associativamente (cooperativamente, diríamos
agora) e decide, com autonomia e conhecimento de si e do seu mundo,
as acções sobre esse ambiente. Seria este o objectivo da nova
organização do trabalho: a democracia, poder dos trabalhadores para
pensar colectivamente as suas relações com o ambiente. A solução
que Marx acabou por preconizar não se revelou possível (abolir o
ter e promover o ser exclusivamente) e há que dissociar Marx quer do
leninismo quer do estalinismo que traem o seu pensamento, mas
interessa ressalvar a ideia de alienação.
A pessoa alienada
não tem interior, define se apenas pelo resultado das suas
acções. A pessoa não alienada pensa se e ao ambiente
para planear a sua acção. O primeiro é um corpo que gera
comportamentos; o segundo é uma mente que conduz um corpo.
Esta distinção
aplica se à própria definição da actividade dos
pensadores, cientistas, intelectuais. Um intelectual deveria tentar
atingir uma compreensão teórica de um campo e apresentar uma teoria
original que dê sentido a um conjunto de dados. A actividade
universitária era criativa, activa, e procurava dar significado a um
campo de estudo. O resultado da ciência deveria ser uma
representação do mundo que enriquecesse o espírito humano.
A posição que
acabei de sumariar é anti tecnicista, humanista, defensora
de que é o sujeito que estrutura o mundo e assim o compreende. A
realidade objectiva só ganha sentido quando interiorizada pelas
subjectividades individuais. Não é subjectivista no sentido de
pretender que o significado do mundo se gera apenas por contemplação
interior. Mas não é objectivista porque compreende que o
significado das coisas apenas é dado quando a realidade é pensada,
e porque compreende que esse significado tem origem nas nossas mentes
e não nas próprias coisas. Pode se descrever como uma
filosofia do indivíduo que se sabe centro da acção sobre o
ambiente, acção essa que tem de ser representada na mente para
poder ser planeada a seguir.
Mantenhamos
presente esta ideia da importância da actividade do sujeito como
factor de liberdade e de acção sobre o ambiente, e consideremos um
ponto de vista muito diferente que surgiu também no Séc. xix.
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Esse outro ponto
de vista responde por vários nomes –positivismo, pragmatismo,
cientismo, tecnologismo– e tem origem no pensamento aplicado: a
ideia de que o conhecimento serve para submeter o mundo ao homem. O
conhecimento é visto de maneira bastante diferente do da posição
anterior: não interessa o que uma coisa é, apenas como se
comportará em tais e tais condições. O conhecimento é, pois,
visto como previsão e não como representação intelectual
autónoma.
O conhecimento
das coisas deriva apenas da descrição: não se deve tentar
compreendê las, apenas descrevê las e prever o
que acontece. A ciência torna se objectiva por exclusão
do sujeito, pólo de subjectividade.
A ênfase na
previsão exclui pois a ideia de que o conhecimento é uma
interiorização dos fenómenos externos e, sobretudo, um
conhecimento de si próprio: o «Eu» não se vê, não é
tecnologicamente identificável, de modo que é substituído pelo
sistema nervoso, que deve ser conhecido para prever a conduta. Assim,
todo o conhecimento seria de coisas e das condutas necessárias a
manipular essas coisas.
O conhecimento
das coisas permitiria o progresso, isto é, a subjugação do
ambiente às nossas necessidades. O positivismo é tecnicista,
objectivista, anti psicológico, concretista e
utilitarista. O conhecimento advogado pelo positivismo é até
regulamentado e cheio de proibições: é conhecimento sobre coisas
úteis ao homem, de coisas que possam ser usadas para o progresso
material e tudo o resto é proscrito.
A actividade do
intelectual é, também, muito diferente: de pensador que procura
compreender o mundo torna se um instrumento de descrição
e comparação entre as várias descrições. Encontra regularidades
e resume as matematicamente em leis descritivas. A
actividade teórica passa a ser proscrita se for além da descrição
e correlação.
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As duas posições
não podem ser mais diferentes. A primeira (que não tem nome, mas
que podemos designar por holismo, de holos,
todo, ou de humanismo, pela sua preocupação com a pessoa) pretende
o crescimento individual, o desenvolvimento de uma visão do mundo
integrada que implica o conhecimento de si próprio. Nesta
perspectiva, o conhecimento do mundo e de si são co dependentes
e não há propriamente objectividade porque todo o conhecimento das
coisas assenta nos processos de que cada indivíduo ou cultura
dependem para construir uma imagem da realidade.
A outra, o
positivismo, passa um traço grosso sobre toda a subjectividade, que
considera marca de espíritos arcaicos, e considera a realidade como
objectiva, pura, existente em si própria. Para a conhecer teríamos
de nos despojar completamente da nossa subjectividade. Teríamos de
ser como um maquinismo de recolha de dados, simples, sem
subjectividade. O sujeito apaga se como centro do mundo,
que passa a ser o exterior.
A diferença
entre as duas posições pode ser ilustrada com uma comparação. A
actividade desejada do investigador pode ser semelhante a uma máquina
fotográfica ou a um pintor. A primeira apenas regista; a segunda
interpreta e salienta as linhas de força. Sublinho que a máquina
fotográfica embora inconsciente, não é completamente objectiva:
impõe as suas características (cor, luminosidade, grão, resolução)
ao objecto. O pintor, ainda que realista, está consciente da sua
subjectividade e sabe o que impõe. É esta a diferença entre os
dois grupos. O positivismo é mais ingénuo porque acredita na
possibilidade de apagar o sujeito; o holismo humanista sabe que o
sujeito está sempre presente porque qualquer fenómeno de
conhecimento implica um sujeito cognoscente.
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O holismo humanista foi vencido não por não ter
méritos mas porque o centro da vida intelectual deixou de ser a
Europa, onde nasceu, e passou para os Estados Unidos. Na América,
com a ênfase na tecnologia e na modificação do ambiente e um
horror vitoriano a todas as formas de introspecção e
subjectividade, matou se o sujeito activo. Substituiu o
o «posto de trabalho», uma função impessoal que deveria ser
desempenhada independentemente das características de quem o ocupa.
A tendência ocorreu primeiro na definição do
trabalho nas empresas, mas cedo passou para o trabalho nas
Universidades. Pretendeu se que o conhecimento era
atingível por processos de descrição e tecnologia, que os
conceitos eram pouco importantes (ou mesmo proibidos) e que a
realidade era conhecível apenas pela anulação completa do sujeito
de conhecimento que deveria passar a uma peça de maquinismo, a um
puro recolector de dados. O sujeito define se, assim, pela
sua conduta, pelos resultados objectivos que consegue produzir
impessoalmente, pelos dados que consegue relatar e não por aquilo
que pensa.
Em termos de trabalho, presume se
igualmente que o sujeito se define por aquilo que ganha e que pode
comprar: pelo Ter e já, nada, pelo Ser. O Ter vê se, o
Ser sente se, e o que se sente não é objectivo e,
portanto, não se pode considerar na análise. A ênfase no Ter e o
desprezo pelo Ser é a posição oposta à liberdade interior de que
falava Espinosa; tudo é definido apenas em termos de satisfação de
apetites e tudo o que se procura dar às pessoas é o dinheiro para
conseguir satisfazê los. Trata se da posição
que os pensadores do Séc. xix criticaram: encoraja se a
alienação e afirma se que é nesse estado alienado que as
pessoas são mais produtivas.
Uma das consequências directas da ênfase nos
resultados em detrimento das pessoas é a tendência à
especialização. Se um trabalhador fizer apenas uma coisa será,
pensa se, mais eficaz do que se fizer várias: pode ser
excelente naquilo que faz, ainda que não saiba mais nada, e é isso
mesmo que se procura, o especialista absoluto de uma determinada
área. Quer se a rendibilidade máxima de cada pessoa
independentemente dos custos que essa rendibilidade acarreta para a
felicidade dessa pessoa.
Esta tendência reflecte se na ideologia
educativa: formam se técnicos, não se educam pessoas. O
conhecimento de si e das relações com o mundo é irrelevante, nem
sequer é considerado. Deixa de se falar em liberdade interior para
se falar apenas em eficácia. Uma pessoa vale aquilo que produz.
Deixa de interessar a sua importância como ser social, como pessoa
que entra em contacto com outros, como ser pensante, para ficar
apenas um valor quantitativo: a relação entre quanto produz e
quanto ganha.
Consegue se assim postos de trabalho
eficazes, geradores de muita riqueza, mas sem qualquer autonomia
intelectual. O trabalhador passa a ser uma peça de máquina
produtiva, precisamente aquilo que Marx denunciava como alienação.
Os humanistas esperavam que as pessoas quisessem,
precisassem, de se conhecer e ao mundo. Mas as sociedades industriais
de origem tecnológica mostraram que nem sempre assim é. Se se der
às pessoas dinheiro e se se lhes criar apetites sempre novos em que
o gastar, supre se essa necessidade. As sociedades
industriais modernas provaram que o humanismo não é uma aspiração
das pessoas comuns e que a alienação não é (pelo menos não é
só) fruto de uma conspiração dos detentores do poder. É uma
tendência humana profunda e a liberdade é apenas uma aspiração de
intelectuais, exactamente como Espinosa compreendera. Criar
cidadãos livres é, pois, uma tarefa para os intelectuais que
compreendem a alienação e os seus males.
Mas os próprios intelectuais sofreram a pressão
para se transformar em peças de engrenagem. São avaliados pela
quantidade de produção, exactamente como qualquer outro posto de
trabalho, em termos meramente quantitativos, pretensamente
objectivos. Como a produtividade é tanto maior quanto maior o grau
de especialização, os universitários (já nem se lhes deve chamar
intelectuais) especializam se numa metodologia, num campo
muito estreito e, fora dessa metodologia e desse campo sabem muito
pouco. É lhes completamente impossível tentar compreender
o mundo à sua volta e dar lhe sentido porque apenas o
sabem pensar de acordo com o seu estreito olhar especializado. É sem
dúvida por isso que há tão poucas propostas teóricas realmente
influentes e relevantes desde meados do Séc. xx: foi esse o momento
em que o modelo do conhecimento passou da Europa para os Estados
Unidos e assumiu a sua forma tecnicista, tecnológica, quantitativa e
especializada. Os intelectuais passaram, pois, de pensadores a
instrumentos. Estão, eles próprios, alienados e não podem pensar a
sociedade que os gerou. Ou seja, passaram de intelectuais,
pensadores, a instrumentos, a operários alienados e impotentes que
não sabem pensar se nem ao mundo.
Uma das consequências evidentes deste
estreitamento de posições é o economicismo vigente no tempo
presente: estamos a destruir o planeta e a sociedade em nome de uma
definição de bem estar puramente quantitativa,
especializada, sectorial, produto puro dos académicos tecnocráticos
e fascinados pela quantificação: a riqueza. Consideramos que a
competitividade, a agressividade, a ambição, a eficácia
especializada são valores mais importantes do que o conhecimento do
mundo e de si próprio e que o bem estar mental e social
das pessoas. Em nome da competitividade as pessoas consomem
quantidades impressionantes de tranquilizantes e anti depressivos
e vivem vidas miseráveis. A ênfase no resultado visível, na
conduta, na produtividade, triunfou completamente sobre a preocupação
com o sujeito.
O triunfo da alienação e a derrota do humanismo
são completos.
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O resultado desta derrota do humanismo e do
domínio do resultado foi catastrófico. O planeta está em risco, a
sociedade em agonia, a economia é impossível de prever, há
assimetrias de riqueza impensáveis e escravidão da maior parte das
pessoas a empregos em que servem os donos. Há crise económica,
social, ecológica, psicológica. Não pode haver dúvida de que o
sistema falhou ou pelo menos ninguém o pode eticamente defender. Não
sei se outro sistema não falharia de outra maneira, mas não seria
desta, pelo menos.
Temos de recuperar o valor de pensar,
em conjunto, os problemas do nosso tempo. Não apenas em termos de
economia (e tampouco de ecologia), não apenas em termos de
rendimentos mas em termos de conceitos definidores do Ocidente: a
liberdade, a cultura, a promoção do livre arbítrio, o
auto conhecimento. Para isso é necessário voltar à ideia
de pluri-disciplinaridade, de humanismo, de princípios que guiam as
nossas vidas. Tudo temas que foram depostos pelo excesso de
tecnicismo, pela avidez do poder e do dinheiro, pela rapidez e
superficialidade dos tempos do capitalismo desenfreado.
Precisamos de uma
ciência de conceitos compreensíveis por todas as pessoas,
independentemente da sua formação, que nos permitam pensar o mundo.
Temos de fazer entender que a função principal da ciência não é
prever, mas conhecer; não deve ser apenas uma actividade que alguns
híper especialistas praticam, uns para os outros, em
laboratórios e gabinetes remotos e que apenas chega às pessoas como
tecnologia. Deve ser também isso, mas, além disso, tem de ser a
formulação de conceitos que permitam às pessoas cultas pensar o
seu mundo e a posição que nele se ocupa.
É essa
capacidade de ter conceitos para nos pensarmos a nós próprios e ao
mundo que permite a liberdade individual e política: a não ser que
se aceite que demagogia e democracia são a mesma coisa, a democracia
é impossível sem que os eleitores compreendam e influam nas opções
governativas. A base da democracia é que as pessoas possam escolher,
propor, participar. É, portanto, o contrário da alienação que se
vive no presente.
Temos, se
defendermos a liberdade intelectual, cívica, pessoal, de promover
uma cultura de conceitos e de valores humanistas e não apenas de
tecnologia e de consumo: uma cultura do Ser em vez do Ter. Há que ir
além das aparências, da pressa excitada de mostrar o mais simples e
da tentativa de nivelar por baixo, e ir mais fundo, com mais vagar e
atenção, e de tentar puxar o baixo para cima.
Há, pois, que
pensar, reflectir, combater a tendência para transformar toda a
gente em postos de trabalho que não se podem pensar. Não estou a
defender qualquer forma de marxismo: essa teoria falhou. Uso o
conceito de alienação porque é actual e é o resultado da
tendência para ver o mundo como tecnologia sem sujeito. O que
defendo é um regresso ao humanismo, à educação para a cidadania,
para o conhecimento de si e da sociedade, para que as pessoas se
consigam pensar e ao seu mundo. O que pretendo é que os intelectuais
não se conformem com o estatuto de máquinas fotográficas a que o
mundo moderno os votou e que ensinem a liberdade mental.
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Portugal está
numa situação em que tem de modificar todos os seus valores: talvez
possamos pensar na futilidade de agora, quando o sistema do Ter
revela ter completamente falhado, o imitar (na economia, nas
universidades). Pensemos em alternativas mostrando a
utilidade do Ser – podemos pensar nos e ao nosso mundo em
vez de nos alienarmos simplesmente para melhor ficarmos à disposição
de quem nos quer comprar e possuir.
Rodrigo de
Sá-Nogueira Saraiva
Santo Estêvão,
19-20 de Outubro de 2012